1972 enfatiza sonhos e ignora os anos de chumbo
1972 / Dandara Guerra, Rafael Rocha, Bem Gil, Fábio Azevedo, Lúcio Mauro Filho, Toni Tornado / Produção e co-roteiro de Ana Maria Bahiana, direção e roteiro de José Emílio Rondeau
Por AARocha
Sob a direção e roteiro de José Emílio Rondeau, produção e co-roteiro de Ana Maria Bahiana, 1972 se passa no Rio de Janeiro, entre garotos da zona sul e do subúrbio. Em comum: todos gostavam de rock, especialmente dos Stones. Embalados pela explosão do rock carioca, representada pela banda A Bolha, os destinos de Snoopy (Rafael Rocha) e Júlia (Dandara Guerra) se cruzam num dia de junho no aglomerado de uma porta de cinema que projetava Gimme Shelter. Como “costume” na época, a polícia baixa o pau na garotada. Snoppy livra Júlia dos cassetetes e das patas dos cavalos, em seqüência bem coreografada. Mas, há um porém: não se explica o porquê da repressão. O enredo ignora que nesta época vivíamos o pior momento da ditadura militar.
José Emílio Rondeau, já experiente diretor de vídeoclipes, nesta sua primeira incursão no longa-metragem nos apresenta uma história que pretende falar de rock e jornalismo, mas não previlegia nenhum dos dois temas. Não há nenhuma viagem psicodélica, nenhum “baseado aceso”, tão próprio da época, como seria de se esperar. Então, o que é 1972? Trata-se de um filme de amor pós-adolescente que se passa durante os anos de chumbo. Os personagens são despolitizados, Snoopy quer ser inteligente, mas suas ironias são ralas. Talvez haja nisso um mérito: não se reproduziu aqui uma duplinha adolescente que lutou contra a ditadura e que virou estereótipo nos filmes, depois da mini-série Anos rebeldes.
O grande personagem do filme é secundário: o bebum Tião (Toni Tornado, em grande atuação e presença marcante), figura sábia de passado estranho, aos poucos desnudada.
Num filme que quer abordar o rock é estranho o rock internacional estar ausente. A trilha sonora (Renato Ladeira, ex-Bolha) compõe-se só de música brasileira, nada dos Stones! Roberta Flack é citada e dela nada se ouve; numa cena de dor de cotovelo ouvimos o hit Impossível acreditar que perdi você, de Márcio Greick, o que provoca um certo tom de ironia.
Sabemos que, para alguns segundos de música americana a “indústria cultural” deles cobra absurdos 200 mil dólares e os limites dos meios de produção daqui não puderam assumir essa despesa. Problemas deste tipo explicam porque 1972 demorou tanto tempo para ser lançado, afinal está pronto desde 2002.
O filme de Rondeau é importante pelo que deixa de mostrar, por instigar nossa imaginação, do que pelo que efetivamente mostra. Daí ser o cinema uma arte necessária.
A direção é ágil, faz bastante uso dos primeiros planos, valorizando a beleza de Dandara Guerra e prende a atenção. Trata-se de um filme de amor e da busca da afetividade. Nesse sentido, é um enredo envolvente.
Reserve um espaço para as suas emoções, leve um(a) acompanhante e assista numa tarde de domingo.
1972 / Dandara Guerra, Rafael Rocha, Bem Gil, Fábio Azevedo, Lúcio Mauro Filho, Toni Tornado / Produção e co-roteiro de Ana Maria Bahiana, direção e roteiro de José Emílio Rondeau
Por AARocha
Sob a direção e roteiro de José Emílio Rondeau, produção e co-roteiro de Ana Maria Bahiana, 1972 se passa no Rio de Janeiro, entre garotos da zona sul e do subúrbio. Em comum: todos gostavam de rock, especialmente dos Stones. Embalados pela explosão do rock carioca, representada pela banda A Bolha, os destinos de Snoopy (Rafael Rocha) e Júlia (Dandara Guerra) se cruzam num dia de junho no aglomerado de uma porta de cinema que projetava Gimme Shelter. Como “costume” na época, a polícia baixa o pau na garotada. Snoppy livra Júlia dos cassetetes e das patas dos cavalos, em seqüência bem coreografada. Mas, há um porém: não se explica o porquê da repressão. O enredo ignora que nesta época vivíamos o pior momento da ditadura militar.
José Emílio Rondeau, já experiente diretor de vídeoclipes, nesta sua primeira incursão no longa-metragem nos apresenta uma história que pretende falar de rock e jornalismo, mas não previlegia nenhum dos dois temas. Não há nenhuma viagem psicodélica, nenhum “baseado aceso”, tão próprio da época, como seria de se esperar. Então, o que é 1972? Trata-se de um filme de amor pós-adolescente que se passa durante os anos de chumbo. Os personagens são despolitizados, Snoopy quer ser inteligente, mas suas ironias são ralas. Talvez haja nisso um mérito: não se reproduziu aqui uma duplinha adolescente que lutou contra a ditadura e que virou estereótipo nos filmes, depois da mini-série Anos rebeldes.
O grande personagem do filme é secundário: o bebum Tião (Toni Tornado, em grande atuação e presença marcante), figura sábia de passado estranho, aos poucos desnudada.
Num filme que quer abordar o rock é estranho o rock internacional estar ausente. A trilha sonora (Renato Ladeira, ex-Bolha) compõe-se só de música brasileira, nada dos Stones! Roberta Flack é citada e dela nada se ouve; numa cena de dor de cotovelo ouvimos o hit Impossível acreditar que perdi você, de Márcio Greick, o que provoca um certo tom de ironia.
Sabemos que, para alguns segundos de música americana a “indústria cultural” deles cobra absurdos 200 mil dólares e os limites dos meios de produção daqui não puderam assumir essa despesa. Problemas deste tipo explicam porque 1972 demorou tanto tempo para ser lançado, afinal está pronto desde 2002.
O filme de Rondeau é importante pelo que deixa de mostrar, por instigar nossa imaginação, do que pelo que efetivamente mostra. Daí ser o cinema uma arte necessária.
A direção é ágil, faz bastante uso dos primeiros planos, valorizando a beleza de Dandara Guerra e prende a atenção. Trata-se de um filme de amor e da busca da afetividade. Nesse sentido, é um enredo envolvente.
Reserve um espaço para as suas emoções, leve um(a) acompanhante e assista numa tarde de domingo.
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