25.3.07

Um gênio popular

Por AARocha

O cinema a favor do cinema e da música
Cartola
/ documentário sobre Angenor de Oliveira / direção de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda / montagem de Mair Tavares

A cultura brasileira é pródiga em talentos que brotam de ambientes não letrados. É o caso de Cartola, retratado no documentário homônimo de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda (2006). Contar a vida de Cartola, suas criações, sucessos e desilusões é lembrar das origens do samba, do Rio, da Mangueira e das práticas mercadológicas do passado, quando se vendia parcerias em sambas. Este documentário subverte o gênero, pois além do uso das imagens de época, busca na ficção comprovar uma tese. O temavenda de parcerias” é reforçada com cenas de Rio 40 Graus, de Nelson Pereira dos Santos; a referência ao nascimento de Cartola (1908) é ilustrada com o filme Memórias Póstumas de Brás Cuba, de Júlio Bressane e faz uma ligação entre a morte de um gênio mulato culto (Machado de Assis) e o nascimento de outro gênio popular, Cartola. As primeiras cenas mostram o velório de Cartola e sua voz em off. Mais machadiano, impossível. Chanchadas e musicais das décadas de 40 e 50 costuram a trama, além de cenas e depoimentos especialmente filmados. Uma curiosidade: Cartola gostaria de ter sido gravado por aquele moço”, e esse moço, RC, jamais gravou Cartola por acreditar que as rosas falam.

Nada Será Como Antes — MPB Anos 70, 30 Anos Depois

Por AARocha
O primeiro time da MPB

Ana Maria Bahiana - Senac Rio

Os ilustres representantes da MPB da década de 70 são as personagens. Falar de movimentos musicais é falar de comportamento, e períodos autoritários rendem boas conversas, seja em críticas ou em entrevistas. Matérias de jornais são perecíveis e se tornam duradouras quando reunidas em livros. É o caso de Nada Será Como Antes, MPB Anos 70, cuja primeira edição, da Civilização Brasileira, em 1979, foi uma curiosidade pois publicada no calor da hora. Agora, trazendo o subtítulo 30 Anos Depois, nos permite avaliar o que de relevante ficou das personagens entrevistadas e comentadas por Ana Maria na imprensa da época. Para situar o leitor atual, a autora inseriu pequenos comentários descrevendo as circunstâncias daqueles encontros. Trata-se de leitura esclarecedora para compreender os rumos que a MPB tomou nos últimos 30 anos, escrita por uma expert, também autora do essencial Almanaque Anos 70.

Publicado na revista Rolling Stones n. 5, fevereiro de 2007.

O Rogério Duprat deles ou O lado B dos Beatles

Por AARocha
George Martin
Highlights From 50 Years In Recording
EMI

Esta coletânea em CD confirma a tese antropofágica de que George Martin é o Rogério Duprat da música inglesa! O que seria dos Beatles e da música popular se não tivesse acontecido esse encontro? George Martin ajudou a “inventar” o som dos Beatles, dando consistência à genialidade de Lennon & McCartney. Como explicar a permanência desse som beatle tão familiar aos ouvidos? As criações do quarteto londrino sempre vieram revestidas de cordas, teclados, sopros e vocalizações geniais, e isso é obra de Martin. É o caso de “I Want to Hold Your Hand” (1963), o primeiro grande sucesso mundial dos Beatles, além de “Do You Want to Know a Secret”, aqui com Billy J. Kramer with The Dakotas (1963), “She’s Leaving Home”, com David and Jonathan (1967) e “Get Back”, com Billie Preston (1973). Esta coletânea mostra que nem só para os Beatles George Martin escreveu belos arranjos. Temas de diversos 007’s como “From Russia With Love” (Matt Monro, 1963), “Goldfinger” (Shirley Bassey, 1964), e “Live And Let Die” (Paul McCartney & Wings, 1973) transformaram-se em megasucessos. Destacam-se ainda produções rockers para América, “Tin Man” (1974) e para Jeff Beck, “Diamond Dust” (1975), além de criações geniais para orquestras.

Publicado na revista Rolling Stones n. 5, fevereriro de 2007.